Acordo UE-Mercosul: Carros importados mais baratos? Entenda o impacto no bolso do consumidor e na indústria automotiva brasileira

O futuro dos carros importados no Brasil e os impactos do acordo UE-Mercosul

A tão aguardada assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, após mais de duas décadas de negociações, promete trazer mudanças significativas para o setor automotivo. Com o objetivo de eliminar a maioria das tarifas entre os blocos, o pacto pode impactar diretamente os preços dos veículos e autopeças, tanto importados quanto os produzidos localmente.

Especialistas apontam para uma possível redução nos custos de importação e exportação, o que poderia tornar os carros europeus mais acessíveis aos consumidores brasileiros. Por outro lado, a indústria nacional enfrenta novos desafios e oportunidades com a abertura de mercado e a chegada de novas tecnologias.

Milad Kalume Neto, consultor e diretor-executivo da K.LUME Consultoria Automobilística, avalia que o acordo, previsto para ser sacramentado em janeiro de 2026, pode impulsionar o desenvolvimento local, mas também levanta preocupações sobre a competitividade de determinados segmentos da indústria. As informações foram divulgadas por QUATRO RODAS.

O que esperar da redução de tarifas para carros e autopeças

A principal promessa do acordo é a eliminação gradual de tarifas de importação e exportação. Para o setor automotivo, isso significa que veículos a combustão poderão ter seus impostos de importação zerados em até 15 anos, enquanto veículos eletrificados terão um prazo de 18 anos, e os movidos a hidrogênio, 25 anos. Veículos com novas tecnologias, indisponíveis no mercado atualmente, terão um cronograma de 30 anos. Essa redução escalonada, conforme explica Cassio Pagliarini, diretor de marketing e sócio da Bright Consulting, não será imediata, mas promete baratear os custos ao longo do tempo.

Oportunidades e desafios para a indústria brasileira

Apesar da redução de tarifas, o acordo também abre portas para o Brasil. Neto destaca que o país tem potencial para exportar veículos menores, como hatchs, sedãs, picapes e SUVs, nos quais já possui expertise. Além disso, o etanol brasileiro pode ganhar espaço na Europa como uma solução para a descarbonização, especialmente com o avanço dos veículos híbridos como alternativa aos elétricos puros.

Contudo, o consultor alerta para os riscos. A produção de veículos de luxo no Brasil pode se tornar inviável, com a lógica apontando para a concentração dessa produção na Europa, que possui maior escala. A indústria de autopeças local também enfrentará uma forte concorrência de produtos importados mais baratos, o que pode gerar dependência de tecnologia externa e dificultar o desenvolvimento de soluções regionais.

Mecanismos de proteção e o futuro da indústria

Para mitigar os impactos negativos, o acordo prevê mecanismos de proteção para a indústria nacional. O Brasil poderá suspender o cronograma de alíquota zero por até três anos, caso haja riscos à indústria local, sem a necessidade de compensações à União Europeia. Essa suspensão pode ser renovada por mais dois anos, oferecendo uma segurança adicional para as operações industriais.

Montadoras como a BMW já se manifestaram a favor do livre comércio, defendendo que tarifas dificultam o progresso e encarecem produtos. Outras empresas, como Stellantis e Volkswagen, não comentaram o assunto até o momento, enquanto a Anfavea aguarda a oficialização do acordo para se pronunciar. A Abeifa não respondeu às consultas.

O longo caminho até a ratificação do acordo

É importante ressaltar que a implementação do acordo não é imediata. O processo envolve revisão legal, tradução para múltiplos idiomas, assinatura, internalização das normas pelos poderes Executivo e Legislativo de cada país, e, finalmente, a ratificação. Assim, o impacto total do acordo UE-Mercosul no mercado automotivo brasileiro será sentido de forma gradual ao longo dos próximos anos.

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