Fúria GT: O Lendário Cupê Brasileiro de 1971 com Coração Alfa Romeo Que Poderia Ter Rivalizado com o Puma GTB

O Fúria GT, um marco esquecido na indústria automobilística brasileira, surge das brumas do tempo para reacender a paixão por carros esportivos nacionais. Projetado com a audácia de Toni Bianco e o know-how da FNM (Fábrica Nacional de Motores), este cupê de 1971 trazia em suas veias o prestigiado coração italiano da Alfa Romeo, prometendo desempenho e estilo que desafiavam a época.

Inspirado pela arquitetura Bauhaus e pelo luxuoso Lamborghini Jarama, o Fúria GT ostentava linhas retas e um design futurista que antecipava tendências. Sob o capô, o potente motor FNM 2150, capaz de entregar 130 cv e atingir 170 km/h, era o coração pulsante deste projeto ousado. A QUATRO RODAS, em novembro de 1971, elogiou o protótipo, destacando sua visibilidade, estabilidade e posição de dirigir, mas o Fúria GT, apesar do potencial, teve uma produção surpreendentemente limitada e um destino incerto.

Esta joia rara da indústria nacional, que poderia ter se tornado um ícone e rivalizado com o renomado Puma GTB, representa um capítulo fascinante e pouco explorado da história automotiva brasileira. Acompanhe os detalhes desta aventura sobre rodas, que envolveu projeção inovadora, mecânica de ponta e um mistério que perdura até hoje, conforme relatos de Toni Bianco e avaliações da época.

Um Sonho Italiano no Asfalto Brasileiro

A história do Fúria GT começa com a ambição de criar um cupê esportivo genuinamente brasileiro, mas com a alma italiana. A ideia partiu de um engenheiro da FNM, ligado ao departamento de competições da marca, e foi abraçada por Toni Bianco, renomado projetista, e Vittorio Massari, executivo da FNM. O protótipo, construído em aço, serviria de base para as carrocerias definitivas em fibra de vidro, um material já utilizado nos para-choques, demonstrando a vanguarda tecnológica do projeto.

Design Arrojado com Inspiração Europeia

As linhas do Fúria GT eram marcadas pela predominância de traços retos, uma clara referência à arquitetura Bauhaus. O formato fastback 2+2 lembrava o futuro Alfa Romeo 2300 e, surpreendentemente, mais o Lamborghini Jarama do que os esportivos da própria Alfa Romeo, com exceção do GTV, que só seria lançado anos depois. O interior não ficava atrás em sofisticação, com bancos dianteiros em formato de concha, apoio de cabeça e um volante esportivo de três raios metálicos revestido de madeira. A ignição posicionada à esquerda e o painel que espelhava os traços externos completavam o visual.

Mecânica Potente e Desempenho Promissor

Sob o capô, o Fúria GT ostentava o motor FNM 2150, um coração potente que prometia emoção. Segundo relatos, Toni Bianco teria encurtado o entre-eixos para 2,5 metros, o mesmo da Alfa Romeo 2000 Spider, além de instalar dois carburadores duplos e elevar a taxa de compressão. A plataforma, segundo o projetista, foi importada de um Alfa Romeo de competição. O resultado era um carro cerca de 300 kg mais leve que o sedã FNM 2150, entregando 130 cv e uma velocidade máxima estimada em 170 km/h.

Avaliação Positiva, Produção Limitada

Em novembro de 1971, a revista QUATRO RODAS publicou suas impressões ao dirigir o protótipo do Fúria GT. Os elogios foram unânimes para a visibilidade, o baixo nível de ruído, a estabilidade em curvas, os freios e a posição de dirigir ergonômica. No entanto, a proximidade entre o acelerador e o freio dificultava a técnica de punta-tacco, e a direção, embora precisa, era considerada pesada. A revista registrou o rodar macio do carro, auxiliado pela suspensão original do FNM 2150.

O Mistério do Fúria GT

Apesar da recepção positiva e de um interesse inicial que resultou na venda de 50 unidades durante um almoço no Rio de Janeiro, o Fúria GT nunca teve a continuidade esperada. Toni Bianco afirma ter concluído quatro carrocerias, mas as razões para o desinteresse subsequente permanecem um mistério. O protótipo, que ostentava um vibrante tom vermelho, inclusive nas rodas de magnésio aro 15, poderia ter se consolidado como um rival à altura do Puma GTB e do Santa Matilde nos anos 1970. O proprietário atual relata que o carro, após um acidente e repintado de prata pela própria FNM, apresentava trepidações e alguns problemas de aerodinâmica em alta velocidade, como o levantamento dos limpadores e a formação de bolhas no forro do teto. Após o Fúria GT, os modelos Alfa Romeo brasileiros passaram a ter apenas quatro portas, mas Toni Bianco não abandonou os esportivos, criando posteriormente os fora de série Bianco S e Dardo.