Renault Desiste de Microcarro Elétrico e Sedã Chinês: Fim da Mobilize Duo e Limo Marca Reviravolta Estratégica no Brasil

Renault Encerra Divisão Mobilize e Descontinua Modelos Elétricos

A Renault anunciou uma drástica reestruturação em suas operações globais, marcando o fim da divisão Mobilize e a descontinuação de projetos ambiciosos, como o microcarro elétrico Mobilize Duo e o sedã Limo. A decisão visa redirecionar o foco da empresa para o negócio principal de venda de veículos, após constatar a falta de lucratividade em iniciativas de mobilidade e serviços.

Essa mudança estratégica impacta diretamente o futuro de modelos como o Mobilize Duo, sucessor espiritual do Renault Twizy, cuja produção foi interrompida apenas meses após o início. A versão de carga, Bento, também foi cancelada, refletindo um cenário desafiador para a monetização de serviços de mobilidade na indústria automotiva.

A notícia, divulgada pela Renault, indica um aperto de cinturão significativo, com a redução de cerca de 80 postos de trabalho na divisão Mobilize Beyond Automotive. A empresa priorizará saídas voluntárias e realocações internas, demonstrando a seriedade da readequação.

Fim da Era Mobilize e Seus Veículos Inovadores

A criação da Mobilize em 2020, sob a liderança do CEO Luca de Meo, tinha o objetivo audacioso de representar 20% do faturamento da Renault até 2030, explorando serviços, reciclagem e dados. No entanto, a realidade do mercado se mostrou mais complexa.

O Mobilize Duo, um quadriciclo elétrico pensado para a mobilidade urbana, teve sua produção encerrada. Da mesma forma, o Mobilize Limo, um sedã elétrico fabricado na China e direcionado a motoristas de aplicativo, não alcançou as expectativas de mercado. Outros projetos, como a van elétrica Hippo, foram absorvidos por outras parcerias.

Redução Drástica na Infraestrutura de Recarga

Além da descontinuação de veículos, a Renault também revisou seus planos para a rede de recarga elétrica da Mobilize. A meta inicial de 650 estações de recarga rápida na Europa até 2028 foi drasticamente reduzida.

O novo plano é bem mais modesto, com o objetivo de instalar cerca de 100 estações na França e pouco mais de 100 na Itália até o final de 2026. Projetos de expansão em países como Bélgica e Espanha foram completamente abandonados, sinalizando um recuo significativo em infraestrutura.

Renault Mantém Foco em Tecnologias Chave e Serviços Essenciais

Apesar do encerramento de vários projetos, a Renault não abandonará completamente o setor de mobilidade. A empresa pretende manter o desenvolvimento de tecnologias de Vehicle-to-Grid (V2G), permitindo que veículos elétricos devolvam energia à rede.

O serviço Charge Pass, que oferece acesso a mais de 1 milhão de pontos de recarga na Europa, continuará ativo. As operações de dados e a plataforma de software Glide também seguirão em desenvolvimento interno no Grupo Renault, indicando um foco em áreas de maior potencial estratégico.

Dificuldades Compartilhadas na Indústria Automotiva

A decisão da Renault reflete uma tendência mais ampla na indústria automotiva, que tem enfrentado dificuldades em transformar serviços de mobilidade em negócios lucrativos. Outras grandes montadoras também estão reavaliando suas estratégias.

A Stellantis, por exemplo, estuda a venda de sua unidade Free2Move, enquanto BMW e Mercedes-Benz já venderam sua joint-venture de transporte por aplicativo, a Free Now. Essa retração geral demonstra os desafios em criar modelos de negócio sustentáveis no emergente mercado de mobilidade.