Rodovias Brasileiras em Péssimas Condições: Mais de 60% Afundam o Trânsito e Geram R$ 7,2 Bilhões em Desperdício Anual de Combustível

Mais de 60% das rodovias do Brasil apresentam condições insatisfatórias para o tráfego, segundo um estudo recente. Essa realidade preocupante não afeta apenas a segurança dos motoristas, mas também gera um impacto econômico considerável e desperdício de recursos naturais.

O levantamento aponta que a má qualidade da infraestrutura rodoviária contribui para o aumento de acidentes, eleva os custos operacionais do transporte e consome bilhões em combustível desnecessariamente a cada ano.

A situação é ainda mais grave quando se considera o período de janeiro de 2016 a julho de 2025, durante o qual foram registrados impressionantes 697.435 acidentes nas rodovias federais monitoradas pela Polícia Rodoviária Federal. Estes dados, divulgados por fontes como a CNT, pintam um quadro desolador da malha viária nacional.

Pavimento, Sinalização e Geometria: Os Três Pilares da Avaliação

A pesquisa detalhada sobre as condições das rodovias brasileiras considera diversos fatores para sua classificação. Além do estado do pavimento, que é um dos elementos mais visíveis do problema, a análise engloba também a qualidade da sinalização e a geometria da via.

Esses três quesitos, quando deficientes, podem comprometer seriamente a segurança de quem trafega. Um pavimento precário, com buracos e irregularidades, exige manobras bruscas e aumenta o risco de perda de controle. A sinalização inadequada, por sua vez, pode levar a interpretações erradas e colisões, especialmente em condições de baixa visibilidade ou à noite.

A geometria da via, que se refere ao traçado, curvas e inclinações, também é crucial. Vias com design inadequado para o volume e a velocidade do tráfego representam um perigo constante, podendo ser a causa de acidentes graves, especialmente em trechos de serra ou com curvas acentuadas.

Pontos Críticos: O Que São e Por Que Preocupam

Um aspecto fundamental na avaliação das rodovias, segundo o estudo, são os chamados pontos críticos. Estes são definidos como situações atípicas que ocorrem na estrada, capazes de interferir no fluxo normal do tráfego e, consequentemente, apresentar graves riscos à segurança dos usuários.

Esses pontos críticos não se limitam a problemas estruturais. Podem incluir desde áreas com alta incidência de neblina, pontos de alagamento recorrente, até trechos com excesso de animais na pista ou cruzamentos perigosos. A identificação e a resolução desses pontos são essenciais para a melhoria da segurança viária.

Além dos riscos à segurança, os pontos críticos também estão associados à elevação dos custos operacionais. O tráfego nessas áreas geralmente é mais lento, o que aumenta o tempo de viagem, o consumo de combustível e, consequentemente, os gastos com a manutenção dos veículos, que sofrem mais desgaste.

O Impacto Financeiro e Ambiental da Má Conservação Rodoviária

A relação entre a qualidade das rodovias e os custos do transporte é direta e alarmante. Quanto pior for a condição da via, maiores serão o consumo de combustível, o desgaste dos veículos e o tempo de deslocamento. O levantamento da CNT estima que a qualidade do pavimento, por si só, eleva em média 31,2% os custos operacionais do transporte rodoviário no Brasil.

Essa elevação nos custos se traduz em um desperdício financeiro colossal. A má qualidade do pavimento gera um desperdício anual estimado em R$ 7,2 bilhões somente com o consumo adicional de diesel. Isso equivale a cerca de 1,2 bilhão de litros de diesel que poderiam ser economizados se as rodovias estivessem em melhores condições.

O valor economizado com a melhoria das rodovias seria suficiente para financiar importantes iniciativas de sustentabilidade. Essa quantia poderia ser utilizada para adquirir caminhões elétricos, impulsionar a produção de combustíveis renováveis ou investir em ações de reflorestamento, contribuindo para um futuro mais verde e eficiente.

Rodovias Concedidas vs. Públicas: Uma Análise Comparativa

Ao detalhar os percentuais de trechos em más condições por tipo de gestão, a pesquisa revela uma diferença significativa entre rodovias concedidas à iniciativa privada e as rodovias públicas, de responsabilidade do governo.

Nas rodovias concedidas, observou-se uma redução expressiva nos trechos classificados como ruins. Em 2025, apenas 618 km receberam essa classificação, um número consideravelmente menor em comparação com os 1.609 km registrados em 2024, representando uma queda de 61,6%.

Nas rodovias públicas, a melhora também é visível, mas em menor escala. Houve uma redução de 23,3% nos trechos ruins, que passaram de 21.630 km em 2024 para 16.594 km em 2025. Embora seja um avanço, o volume de quilômetros em más condições ainda é significativamente maior quando comparado às rodovias concedidas.

Esses dados sugerem que os modelos de concessão, quando bem geridos, podem ser mais eficazes na manutenção e melhoria da infraestrutura rodoviária. No entanto, a persistência de problemas nas rodovias públicas exige atenção especial e investimentos mais robustos por parte do poder público.

Segurança e Custos: Um Ciclo Vicioso a Ser Quebrado

A combinação de pavimento ruim, sinalização deficiente e geometria inadequada cria um ciclo vicioso de insegurança e custos elevados. Caminhoneiros, por exemplo, enfrentam rotineiramente o desgaste prematuro de seus veículos, o aumento do consumo de combustível e o risco constante de acidentes.

A Polícia Rodoviária Federal, ao monitorar as estradas, tem um panorama claro da dimensão do problema. Os 697.435 acidentes registrados em rodovias federais entre 2016 e 2025 são um testemunho sombrio das consequências da infraestrutura precária.

A melhoria das rodovias brasileiras não é apenas uma questão de conforto, mas uma necessidade urgente para a economia e para a vida dos cidadãos. Investir em infraestrutura de qualidade significa garantir mais segurança, reduzir custos logísticos e promover um desenvolvimento mais sustentável para o país.

A busca por soluções que envolvam parcerias público-privadas eficientes, planejamento de longo prazo e fiscalização rigorosa é fundamental para reverter o quadro atual e construir um futuro com rodovias mais seguras e eficientes para todos os brasileiros.